Depois que brigamos ele voltou a mexer naquilo e não conversou mais. Eu fiquei pensando nisso, em quem poderia ser e ele voltou à vida. Contou de um general que todos temiam, mas que ele não sabia se existia mesmo um general, ou se eram vários generais guiados por alguém que nem ali estava. Disse que se sabe pouco sobre ele, mas que não é humano; é de outro planeta.
-Seja quem for é alguém que não gosta de conversa. Ele tortura e mata. Os exércitos são implacáveis, não deixam nada para trás. Todos que chegaram perto desse exército não quer fazer de novo. Eu já vi muita coisa feia que eles deixaram pra trás. Não sei se é uma boa idéia a gente tentar resolver dessa maneira não.
-Ninguém é totalmente mau, Dion. Todo mundo age por algum motivo, por alguma crença. Se faz coisas ruins, faz porque acredita ser esse o caminho melhor! Esse general deve ter um propósito que a gente precisa descobrir!
-Pode tirar o plural dessa sua frase porque você não vai pra lugar nenhum! Já se meteu demais nessa história e já está na hora de voltar pra sua casa...
-Ei! Não sou criança, não, e você sabe disso!
Uma menininha falando isso!
-Uli, é perigoso chegar perto disso! E além do mais nem é problema seu!
-Como que não é problema meu, Dion? Você não está me vendo aqui? Se eu estou aqui com você isso é problema meu também! E pára com essa idéia que a gente tem outras coisas pra pensar. E se a gente reunisse todos...-
um estouro de repente me assustou. Parecia uma bomba, e estava muito perto. Dion me olhou.
-O que foi?
-Um estouro! Acho que é bomba!
-Vem de que lado? – falou enquanto tirava um ferrinho da máquina e escondia no bolso.
-De lá, eu disse, enquanto ouvia gritos e tiros.
Corremos para o outro lado. Dion tentou segurar na minha mão mas não deu. Todo mundo queria passar pela porta ao mesmo tempo. Todo mundo me empurrava e me chutava, porque eu estava menor que a maioria. Um homem grande me ergueu acima da cabeça de todos, me tirando do sufoco, foi quando eu vi, na nossa frente, um exército enorme apontando armas contra as pessoas que saiam do prédio.
-O exército- eu gritei – bem na nossa frente! Corram pro outro lado! Rápido! –o grandão não mudava de direção e estávamos correndo direto para a ponta daquelas armas quando eu vi um entrando dentro do outro. As pessoas atravessavam o exército como se fossem fumaça. Eu os estava vendo nitidamente, sem nebulosidade nenhuma. Vi um soldado vindo na nossa direção, determinado. Pensei que quando ele chegasse na nossa frente ele atravessaria a gente como todos os outros, mas ele veio pra cima de mim e, para meu pânico, me agarrou dos braços do meu novo amigo e me puxou para ele. Quando eu estava sendo carregada por ele tentei olhar pra trás, pedindo ajuda. Meu amigo olhou espantado e veio na minha direção para me pegar quando outros soldados entraram no meu campo de visão. Consegui me desvencilhar das mãos do soldado, mas não consegui ir muito longe.Eles me encurralavam como se eu fosse uma galinha, abrindo os braços para eu não fugir. Eu sentia falta de ar de medo e tentava gritar, mas não fazia porque achei que isso fosse me desconcentrar do foco principal: escapar. Lembrei da galinha e corri, mudando de direção a cada momento. Como eles eram muito altos, tinham dificuldades em acompanhar as viradas bruscas de direção, e com isso eu fui ganhando distância deles. Já estava ficando cansada quando olhei pra trás, pra ver se já dava pra diminuir um pouco o ritmo; não vi onde pisei, só senti a queda. Gritei. Parece que tinha pulado de um despenhadeiro e estava voando no ar, vendo o chão se aproximando da minha cara cada vez mais. De medo do impacto eu fechei os olhos e gritei. Não sei como, de uma hora pra outra, estava eu dentro da água, gritando lá em baixo! Olhei pra todo lado sem entender nada, mas sabendo de uma coisa; preciso de ar, preciso ir para a tona, agora! Remei para onde eu achava que tinha que ir e curiosamente meu corpo ia subindo. A sensação era de ter sido empurrada de baixo da água para cima dela. Facilmente cheguei na tona, meio tossindo e com o cabelo todo na cara, dificultando respirar sem água. Nadei, tossia mais, nadava mais um pouco para a margem. Estava escuro e pensei – mais um lugar onde não enxergo direito.
domingo, 2 de dezembro de 2007
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