domingo, 2 de dezembro de 2007

É. Cada lugar aceita a gente de uma maneira. Aceitei ser vista como criança, fazer o quê? Não entendia nada daquilo mesmo, só ia poder participar em presença. Mas logo descobri minha utilidade como tradutora do Dion. Eles o conheciam e ficaram muito felizes de serem encontrados por ele, porque parecia que ele tinha como salvar o pessoal. Fomos para uma sala grande, um pouco mais iluminada, mas ainda muito embaçada, como se estivessem soltando gelo seco a todo o momento. Me colocaram sentada em uma cadeira e eu ficava brincando de repetir tudo que ouvia dos sobreviventes. Horas infindáveis de explicação sobre como tinham sido atacados e quantas naves eram. Desenha símbolos, relata dados analíticos, calcula quanto tempo faz isso. Ia me dando sono, além da fome. Eu entendia muito pouco. Não sabia se eles falavam de uma guerra de armas ou era uma história de ficção científica, porque falavam em “bomba”, em “andróides iguais a humanos”, e “dados alterados”, “ondas magnéticas” tentando combater “ondas sonoras”, e tantos nomes estranhos como “Lizzi”, “Exion” “USB” e coisas que não tinham sentido numa mesma frase. Depois de muito conversar, eles deixaram Dion trabalhar numa máquina que parecia ser o computador deles. Fiquei por ali, mesmo porque eu não enxergava muito longe, com aquele gelo seco todo. Dion ia falando monocordiamente, porque sua concentração estava naquela máquina, mas explicou que essa era uma guerra horrível porque eles não tinham muitas defesas contra o inimigo. Comentei que nenhum mal surgia do nada e tudo era uma reação em cadeia. A gente precisava descobrir o núcleo deste problema, ir lá e resolver. Ele me olhou com aquele olho transparente e socou:
-Como a gente faz pra descobrir isso?
-Encontra quem é a pessoa que está por traz de toda essa onda de reações!
-Como é?
-Temos que achar o núcleo da guerra, que geralmente é uma pessoa só!
-Isso não é brincadeira, Uli! Você acha que as coisas são tão simples assim?
-Você acha que são complicadas?

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