domingo, 2 de dezembro de 2007


Eu sabia de um caso de alguém que tinha ficado numa realidade de forma não comunicativa durante muito tempo - quem era mesmo?- e essa pessoa via tudo, sentia, mas era como se toda realidade fosse só imagem. Seu corpo atravessava objetos, pessoas e tudo que deveria ser sólido. Fiquei com medo de viver isso, mas não podia negar ajuda a um colega viajante, não pegava bem, não era ético. Ao mesmo tempo pensava, como vou voltar com o Dion? O que vou explicar no meu mundo? E outra, como iria leva-lo? Decidi tentar, mesmo que não desse certo, iria juntar minha energia com a dele em estado meditativo e me concentrar em casa. Se não desse certo, o que podia acontecer? Eu chegaria em casa e ele não. O que mais podia acontecer. Bom, veremos. Quando pensei isso terminei de levantar e disse, toda segura de mim:
-Vamos? Já estou ficando com fome.
Segurei na mão dele e senti que ele tinha uma energia pessoal muito intensa. Ele vibrava num padrão diferente. Se bem que eu não fico encostando em todo mundo que eu encontro, aliás, evito muito isso. Mas ele tinha uma vibração forte.
-Segura em mim, eu falei.
Fechei meus olhos para me concentrar melhor e também porque estava tímida com ele me olhando daquele jeito enquanto eu me concentrava.Pensei em casa, vi a bola de galáxia rodando do jeito certo e familiar, pulei nela me lembrando da sensação das mãos dele segurando as minhas, e fiquei olhando a galáxia se aproximar, quando de repente, nos desviamos e a luz explodiu. Levei um susto e abri os olhos rápido. Ainda segurava as mãos do Dion, mas dessa vez ele estava muito mais alto do que eu. Olhei em volta e parecia noite. Meus olhos estavam embaçados e eu estava meio tonta; podia ser de fome.
-Nossa, acho que alguma coisa deu errado, Dion. Não estamos em casa. Essa não é minha casa. Que lugar é esse será? Puxa, estou com fome. Acho que já deve estar na hora da janta e ainda estamos aqui. Será que você desviou nossa rota? No que você estava pensando quando eu pulei na galáxia, Dion? Dion, você está me ouvindo?
-Shhhh, fica quieta Uli, vão encontrar a gente!
-Quem vai encontrar a gente? – falei sussurrando.
-Eles.
-Eles quem, catapum?
Catapum é um xingamento meu. Denota pânico.Acho ruim ficar usando nomes, substantivos, adjetivos ou até nomes de santos para tentar descrever um momento interno, por isso uso uma onomatopéia, porque acho mais certo.
Agora vamos voltar lá.
-Eles quem, catapum? Onde a gente está? Você conhece aqui? – estava começando a ficar nervosa e o comportamento do Dion não me relaxava nem um pouco.
-Estamos num campo de batalha.
Eu disse – O quê?!!!- Olhei em volta e era muito escuro, embaçado, mas via uns destroços de máquinas, parecia, uns sons estranhos e um ronco que ia aumentando.
-Que ronco é esse, Dion?
-Ronco, que ronco? Estamos num campo de batalha, Uli, não faça barulho até eu saber como tirar a gente daqui.
O ronco começou a aumentar me induzindo a temer pelo pior. O chão começou a vibrar, foi quando o Dion encostou as mãos no chão e olhou em volta, com nervosismo. Percebi que ele não estava ouvindo, só sentindo aquele ronco, e não tinha como saber da onde vinha o som. Procurei e identifiquei uma direção. Corri, peguei na mão dele e falei, tentando não gritar:
-Vem de lá! – apontei.
Ele me puxou para a direção oposta e disse – Corre! – Nossa, eu não corri, eu voei, com Dion me puxando pelo braço. Ele corria, mas eu voava e pensei, “como fui ficar tão pequena?” . Encontramos um prédio que parecia estar afundando no chão. Entramos pela janela, que mais parecia uma porta pequena, porque estava na altura do chão. L´pa dentro, com o piso meio torto fazendo a gente escorregar sempre pra esquerda, fomos entrando para o escuro e paramos antes de não saber onde estávamos pisando. Respiramos ali, aguardando um próximo susto enquanto a gente tentava voltar ao normal.
-Você ouviu?
Ouvi, eu falei. Ficamos quietos. Que lugar era aquele?

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