sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Diário de uma viajante

Em Tejana

Fui parar na aldeia de Triana por um lago. Era noite quando eu cheguei lá e no começo não tinha idéia de onde estava. Estava muito frio, minha roupa toda molhada, deitei naquela margem lamacenta, tentando me aninhar em mim mesma, pensando no Dion que tinha ficado lá naquela realidade das máquinas-soldados, preocupada com ele, com aquelas pessoas todas que moravam ali, assustadas com as máquinas que engoliam pessoas. O medo tem sempre uma cara muito feia, não importa onde. Pensava que eu poso fazer tão pouco pelas pessoas que eu venho a conhecer! O Dion, como o amei desde o primeiro momento que o vi ali, naquela nave, se esforçando para sair daquele mundo. Será que ele ficou bem? Como poderei me encontrar com ele de novo, se ele também viaja?
-Quem está chorando?
Ouvi essa voz atrás de mim. “Chorando?”, pensei. É, estava.
-Quem está aí?
Tentei me mexer e não conseguia. Meu corpo estava muito cansado. “Aqui!”, respondi. No clarão da lua apareceu uma mulher bonita, senhora já, de saia comprida e um chalé nos ombros. Tinha jóias, nas orelhas e nos dedos e cheirava a jasmim. Ela me olhou e ficou atordoada. Me disse com uma voz terna:
-Calma, minha querida, já vamos te tirar daí.
Ao mesmo tempo virou para trás de si e gritou:
-Juan! Juan, venha ajudar, depressa! Um anjo acaba de cair do céu!

Era uma aldeia de ciganos. Grande. O Juan, um cigano bonito com uma argola na orelha e que cheirava a mato molhado com tabaco, me carregava nos braços. Ainda não podia me mexer direito, com um cansaço espalhado por todo meu corpo. Me levaram para uma tenda, muito ricamente decorada, cheia de vasos de bronze, tapetes, almofadas. Me colocaram num almofadão que me cabia inteira e Juan saiu. Entrou uma mocinha que parecia que tinha sido arrancada do sono, carregando uma jarrona de água quente que ela colocou numa tina. Me despiram com muito respeito e me colocaram na água morna, relaxante, confortável. Elas murmuravam alguma coisa enquanto me banhavam. Tentei uma comunicação.
-Meu nome é Anantha.
-Samantha.
-Não, Anantha.
-Sim, Samantha.
-Bom, que seja. Eu não vim do céu. Não sou um anjo, viu? Eu saí do lago e vim parar aqui.
-Sim. Anjo da água. Samantha.
Aquela mulher não era de muito papo. Resolvi conversar com a mocinha.
-Meu nome é Anantha. Qual é o seu?
-Natacha.
-Que nome bonito.
Quis ser educada, porque na verdade achei o nome dela bem esquisito. Perguntei o nome da senhora e Natacha disse:
-Triana.
Me soou bonito. Três Anas e não uma só. Ela era ‘madrecita’ de Natacha. Pensei que significava que ela era mãe mesmo, mas só muito tempo depois eu fui entender que ‘madrecita’ era ‘senhora’. Ela era a rainha, era isso.

2 comentários:

tatiana disse...

Já estava ansiosa para saber o que tinha acontecido. Espero novas postagens.

Anantha disse...

Ok. Vou tentar aditivar as postagens. Beijão!